Perfeição

Quando era criança perguntei à minha mãe o que era a perfeição e ela respondeu-me que esta se encontrava naquilo que considerávamos que se encontrava: Deus, Arte, Ciência... E nesse dia considerei perfeitas as botas vermelhas, as papoilas, as minhas irmãs, o avô e os seus coelhos recém nascidos.
No entanto, hoje considero que a perfeição se encontra nas memórias de algo não dito. É que eu vi... E tal como uma conversa começou com um "Olá" e terminou com um "Adeus". Não me lembro dos sons pois os surdos não precisam deles para saber o que é dito da mesma forma que os cegos não precisam de ver para saber se algo é belo.
Os olhos são a morada da alma, na alma é onde se encontram as emoções e são estas que importam pois é nelas que reside a perfeição. Portanto bastou-me não olhar mas ver como um cego vê para saber que a tinha encontrado.
E todos os segredos partilhados eram parte disso, tal como todos os toques desde uma raspadela não intencional ao mais caloroso e íntimo abraço. E todas aquelas lágrimas eram apenas uma forma de não deixar secar um campo florido à luz do sol. E todos aqueles risos e sorrisos eram o que lhe dava som e cor, não o deixando como uma velha fotografia a preto e branco.
E eu não sei se alguma vez me viu verdadeiramente em vez de só olhar. Também não sei como sentiu esta nossa "conversa". E nem desconfio do que terá encontrado em nós. Mas sei como o vi e senti e sei o que encontrei, pois no dia em que não pude olhar eu vi. E vi-a.


(19 de fevereiro de 2016)



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