Insónia Em Sí b

Num fundo preto duas agulhas brancas metálicas prefuram os meus ouvidos como um sí bemol do extremo direito do piano tocado continua e fortemente.
Tenho apenas por companhia a minha mente e o meu corpo, mas ela é deprimida e agressiva enquanto ele já não me desperta o interesse de outrora.
Debaixo da minha cama está escondida uma garrafa de sangria barata sem um terço do seu conteúdo, mas amanhã tenho aulas logo de manhã.
Liguei o candeeiro de lava, mas está frio e a lâmpada ainda não aqueceu o suficiente pelo que o líquido azul e verde está parado na sua beleza aborrecida e eu queria dormir.

(23 de janeiro de 2018)

Charlie

Corremos. Os foguetes rebentavam demasiado próximo e corremos. Antes disso já estavamos ofegantes porque riamos. De quê? Não sei... alegria e histeria bebeda sem álcool.
A areia estava molhada e sentamo-nos e deitamo-nos enquanto o céu ficava turvo, não de nuvens mas de fumo, e se coloria de branco, amarelo, verde, azul e vermelho.
Suponho que houvessem estrondos que não ouviamos. A nossa música estava alta mas só nós é que a escutávamos individualmente.
O ano passado explodia espatacularmente acima das nossas cabeças, em frente aos nossos olhos, e as suas cinzas e pequenos papeis incandescentes choviam para os nossos rostos extasiados e para a areia molhada.

Na realidade o ano passado estava intacto tal como os nossos eus independentemente de todas as promessas e resoluções que pudessemos dizer. Mas aquele espetáculo de luz e som criado parcialmente por técnicos e parcialmente por nós era o que precisávamos momentaneamente para acreditar que podiamos ser felizes algures no futuro porque o tempo não pára e não nos deixa parar.
Enrosquei-me, respirei aquele ar queimado "e naquele momento, juro que éramos infinitos."

(3 de janeiro de 2017)

Rotina Noturna

Dorme, rapariga, pois estás cansada. A máscara que usas durante o dia é recarregada pela tristeza noturna que sentes quando estás sozinha. ...