Os cabelos outrora coloridos não se distinguem dos brancos, fundem-se todos nos caracóis que emergem da sua cabeça.
As velas dos candelabros apagam-se à mais leve brisa deixando o mundo numa escuridão fria com o leve cheiro ao fumo que desaparece pela frincha da janela aberta.
A sua face que uma vez fora rosada e viva está agora pálida como pó de arroz e com a expressão neutra de uma boneca. A tinta que a ornamentava escorre chuvosa pelas bochechas deixando marcas de rios negros.
Versalhes faleceu perante a monstruosidade opaca do seu olhar. O barroco do seu vestido parecia arrancado à força com a brutalidade de um invasor estrangeiro. Só lhe resta um sapato e nenhum Príncipe que lhe traga o par.
A parede é preta e ela está sentada numa cadeira de madeira manufaturada.
(9 de setembro de 2017)