Mas não é lixo

A verdade é que a maior parte das vezes não fazemos a mínima ideia do porquê de estarmos a agir de certa maneira.
Tu não sabias porque é que pousavas a cabeça no seu ombro e não te consegues recodar da origem da tua vontade de o abraçares. Não sabes como o fizeste mas enviaste os sinais. E mais ainda, na época não só não sabias porque o fazias como de cada vez que te sugeriam um motivo hipotético por detrás das tuas ações parecia-te quase impossível que assim fosse.
Mesmo assim, abraçaste-o e escutaste o seu coração, sentiste a sua respiração, olhaste as estrelas e deixaste que fossem elas a iluminar o teu primeiro beijo na tua primeira festa. Tudo parou exceto o corpo dele e o teu, acompanhado de pensamentos de dúvida para contigo própria. Questionaste que amor poderias ter pelo outro quando menos de um mês depois deixavas que tal acontecimento noturno se desse e decidiste, então, que não mais o amavas.
E abraçados voltaram para onde o tempo corria e os sons soavam. Sorriam e falavam com os outros e abraçados se mantinham, como que um campeão a mostrar o seu troféu. Não o sabias conscientemente, mas naquela noite ele era o teu troféu e tinha gravadas em si as palavras "ultrapassei o passado". Era a prova que precisavas de mostrar àquele que um dia amaste e dizer-lhe que então não te importavas.
Com orgulho mantiveste esse prémio perto de ti até ele passar a ser o próprio jogo que desonestamente jogaste para ganhar.
Desconhecidas que o jogo era desonesto contigo e não houve vencedor no final. Cancelaram-no antes de chegar à melhor parte que nunca viria a chegar sequer. Paranóica tinhas previsto esse cancelamento antes do árbitro e nada disseste com esperança de conseguir evita-lo e marcar golo.
Realmente marcaste o tal golo, amaste o que fora um troféu e que naquele momento era tudo porque tudo é valioso. No entanto o apito final já tinha soado e a maior parte dos adeptos já lá não estava.
Ficaste sozinha num estádio sujo e terias que ser tu a limpar cada mancha e lata. Era-te impossível faze-lo sem recordares as tuas ações sem porquês.
Ainda lá estás, sentada a solo no ponto central, rodeada de manchas e latas que escolheste e a analisar cada uma delas, a imaginar o quão diferentes podiam ser ou ter sido. E nada limpas.
És tão suja!

(2017)

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