Biografia

Aos 12 anos obrigaste-te a deprimir sem razão,
Gritavas aos sete ventos que querias morrer.
Oh jovem, não te tinhas apercebido ainda que esse era um desejo desperdiçado?
Morrerás de qualquer das formas.

Aos 13 anos começaste a rejeitar as amizades
Por causa da tua autoinduzida depressão.
E depois vitimizaste-te.
Oh jovem, a tua cegueira aumenta.

Aos 14 anos percebeste que já era tarde demais.
Oh jovem, finalmente!
Ao tentares emendar os teus erros, o que sentias tornou-se genuíno.
Não melhoraste.

Aos 15 tiveste uma nova oportunidade.
Também não a aproveitaste muito bem, pois não, jovem?
Deixaste-te levar pela irracionalidade.
Parvo.

Aos 16 puseste um chapéu e deixaste o vazio encher-te.
Encheste, então, esse vazio de vozes e o teu nome passou a ser Fernando Pessoa.
Andaste aí a fazer poesias, mas diz-me, jovem,
Quão poético és tu nessa tua solidão cuja culpa é igualmente tua?

Aos 18 compraste um maço de tabaco e uma garrafa de absinto
E bêbado escreveste o teu pior poema
E as vozes que enchiam o teu vazio começaram a afogar-se no álcool.
Já achas a tua depressão suficientemente vedadeira, jovem?

Aos 20 a pessoa que mais amavas abandonou-te,
Estava farta dos teus queixumes.
Pelo menos foi o que ouvi dizer.
Oh jovem, aumentaste o número de garrafas.

Aos 23 compraste algo injetável.
Aos 24 deixaste crescer o cabelo e a barba.
Aos 25 tiveste um bastardozinho.
Aos 26 compraste uma pistola.

Aos 27 eras um Kurt Cobain esquizofrénico de chapéu.
As poucas vozes que te restavam deixaram um último poema
Antes de desaparecerem numa última inundação de heroína e absinto
E de dares uso à pistola que tinha comprado.


(21 de abril de 2017)

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