Vénus

Estás cego. A tua paixão fervorosa por uma ideia é-te mais prejudicial à vista do que cataratas sobrepostas nos já enfraquecidos olhos de um idoso. O sentimento que te move é apenas real porque o criaste de raiz. Qual Terra Média, qual Hogwarts...
Não te permitiste apreciar a pessoa que estava à tua frente, ver a deusa que ela achava sentir-se aos teus olhos, cada vez mais nua, exposta. Querias espreitar algo inexistente. Talvez o coração de que os amantes falam. Ou a alma?
Não a vias dançar para ti? A chamar o teu ser para o seu íntimo e a pedir que a acompanhasses? Não a ouvias cantar? O seu chamamento de sereia apenas dirigido aos teus ouvidos? Não leste as suas cartas? Os seus constantes pedidos suaves da tua presença e atenção?
Olha para ela. Deitada no teu leito à espera que se lhe juntes. Acaricia a sua face, o seu braço,  o seu ventre. Sente as suas carícias no teu rosto, no teu pescoço,  no teu peito, no teu coração. Acaricia-lhe o ego, a autoestima. Procura a sua alma e devolve-lha com igual carinho.
Abandonada. Perdida. Confusa. Ela corre. À beira mar, para norte, para os lobos, à noite. Vai correr a seu lado. Agarra-lhe o braço,  não a deixes entrar no mar gelado. Puxa-a para o teu corpo quente. Abraça-a na sua apatia, Sr Empático,  fá-la sentir, aquece-a.

(9 de junho de 2017)

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