Operário da Revolução Emocional

É um operário enferrujado e dorido a cair do cimo da chaminé da fábrica onde uma vida trabalhou não tirando as mesmas vestes velhas e gastas, vermelhas e acizentadas que assim o cobrem desde que se cansou.
A sua esposa automatizada chora-o automaticamente ao lado dos seus filhos e filhas quase apáticos que apaticamente gemem a sua perda no cubículo a que chamam casa.
O cenário varia entre tons de castanho, cinzento e negro. Por vezes está salpicado por vermelho escuro e sujo do sangue ainda mais sujo que escapou através das feridas sujas deixadas pelos acidentes de trabalho. O papel de parede coberto pelo pó está rasgado deixando ver mais papel de parede por baixo igualmente rasgado revelando a parede de madeira apodrecida com um buraco no meio.
Por esse buraco a classe média espreita a miséria da família, chama-lhe de catástrofe, reza a um ser surdo e nada faz para ajudar a pobre mulher esfarrapada e as crianças raquíticas.

(30 de agosto de 2017)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Rotina Noturna

Dorme, rapariga, pois estás cansada. A máscara que usas durante o dia é recarregada pela tristeza noturna que sentes quando estás sozinha. ...