Desabafo De Uma Decadente

Estou. Como estou? Onde estou? O que estou? Não sei. Simplesmente estou.
Sinto. Como sinto? Onde sinto? O que sinto? Sinto a minha pele a ser rasgada grosseiramente pelas tuas mãos ardentes. Sinto os meus ossos a partirem-se, a desaparecerem do caminho enquanto procuras a minha alma. Sinto-te a arrancar os meus músculos enfraquecidos e a amontoa-los como lixo.
"Como lixo", mas a minha intenção não era uma comparação. Não, os meus músculos são lixo, tal como todo o resto do meu eu.
Cada lágrima que choro é um resíduo líquido da tristeza que injetaste em mim como veneno antes de ires. Cada arranhão é  vestígio do pânico, da dúvida e ódio próprio que me domaram após a tua partida. Cada pensamento, memória e fantasia são migalhas de falsa esperança e negação espalhadas pelo chão da cozinha e que juntas davam para montar uma padaria.
A cama só está quente porque é verão. O meu quarto é o Norte, onde os horrores de gelo governam. O que não levaste de mim está deitado, nu, à espera de definhar. Mas talvez não esteja de todo porque se não levaste tudo o que tinha levaste tudo o que era importante, levaste-te.

(23 de agosto de 2017)

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